quinta-feira, 11 de outubro de 2007

“Fragma”, de Cândido Rolim e “Dulcinéia em Hollywood”, de Cherlanyo Barros

A leitura do livro “Fragma”, de Cândido Rolim, é desconcertante. Logo se instala uma perturbação... é que o desafio se impõe da primeira à última página. A indisciplina com a forma, a relação de escassez com as palavras e de amor com as lacunas leva o leitor a uma ginástica mental ininterrupta. São estilhaços de pensamentos, fragmentos de concepções e filosofias que exigem uma (re)construção de sentido para a possibilidade de fruição. O transtorno é próprio da prosa contemporânea fragmentada. Há sempre mais subtexto que texto. Assim, o pequeno livro se agiganta, desaparece a idéia inicial de minimalismo, as construções crescem a cada leitura. Pensamentos, aforismos, nunca se sabe... De um tijolo se vê um prédio. Viagens... É denso e desordena... “forma, contorno, tudo temor de extensão”.

Já “Dulcinéia em Hollywood”, de Cherlanyo Barros, traz histórias curtas, bem costuradas, urbanas e interioranas, mostram a mudividência rural e citadina do autor, que, com igual desenvoltura, transita pelos dois mundos, sem qualquer artificialismo. A contraditória pureza de Quirina, a inusitada paixão de Margarida, a egenhosidade de Rosalina, a imprudência-heróica de D. Socorro, as artimanhas de Julieta e a insatisfação da sonhadora Dulcinéia colocam em evidência personagens femininas, pessoas comuns, ingênuas, mas capazes de tomar posição. As histórias “O casamento de Rosalina Sapiranga”, Joaquim Bonequeiro”, “O rádio” e “Zequiel e a bodega” dão vivas à ficção regionalista e resgatam o universo interiorano, com suas figuras emblemáticas: O coronel prepotente, a falsa beata, o bodegueiro, o bonequeiro. Gostei especialmente de “Amor de peixe”, um conto bastante simbólico, que mostra a solidão e a insatisfação do homem contemporâneo, e “Desilusão”, que, por outro viés, também mostra a insatisfação humana e, especialmente, o desejo pelo inatingível, que também está latente na personagem Dulcinéia. Muito bom!

Um comentário:

Walmir disse...

Fico com pena de não conseguir os livros que você resenha, Aíla.
Mas livros que não conhecemos também são bons, a gente sonha com eles. História de histórias.
Paz e bem