Foi com muita satisfação que recebi o convite para apresentar o primeiro número da Revista do Curso de Letras da Unifor - a Literarte - revista que vem marcar a afirmação deste curso que, no seu quarto semestre, conta com cento e cinqüenta alunos, mais do que contam, no mesmo curso, Universidades públicas tradicionais do interior do estado.
Mas o que enaltece o nosso jovem curso não é a mera quantidade, é o empenho em fazer emergir um castelo das cinzas e vê-lo solidificado na motivação exposta no rosto do seu Diretor, da sua coordenadora, dos seus professores e de cada um dos seus alunos. O diferencial está na vontade coletiva de construir, em bases consistentes, o percurso que formará profissionais de letras, comprometidos com a sua missão fora dos muros desta Universidade. Note-se que um dos indicativos do compromisso dos alunos em edificar o curso está já nesta revista, produzida por eles, possível somente pela luta deles.
No itinerário da conquista do espaço social, de um curso que se afirma ante a sociedade cearense, com a peculiaridade de ser noturno para acolher aqueles que trabalham o dia todo, e com o currículo condensado em três anos e meio, viabilizando ganho de tempo para aqueles que têm pressa de chegar, adentramos, agora, com a Literarte, o território da palavra que nos é facultada, no intuito de, como é dito na apresentação, “proporcionar um equilíbrio entre o entretenimento e a reflexão”.
E é já o primeiro artigo que nos presenteia com um mergulho no vasto terreno da reflexão. O prof. Batista de Lima, senhor das palavras e eterno apaixonado pelas letras, cria uma bela metáfora para desvendar os labirintos de um texto, através dos movimentos de rastreamento e prospecção, incutindo no processo da leitura as duas direções que acabam por nos levar ao mágico reino das palavras, contido nas linhas e entrelinhas, fundindo criador e criatura no momento apoteótico do desvendamento oriundo de cada “ato de leitura”.
No mesmo estro reflexivo, o Professor José Lemos Monteiro tece críticas ao Hino Nacional brasileiro, revelando flagrantes falhas estilísticas e despertando-nos para o aspecto ideológico que julga “vulnerável e prejudicial à consolidação dos valores e aspirações do povo brasileiro”. É também para reflexão o texto de Silvana Mara sobre a proliferação de universidades particulares em nosso estado, suscitando um olhar perquiridor para os duvidosos critérios utilizados pelo MEC diante de tanta concessão e para o mais grave: a qualidade dos profissionais que jogam no mercado de trabalho.
Contundente é o desabafo do aluno Thomaz Othon sobre o desvirtuamento do sentido dos estágios curriculares, mostrando no artigo “Estagiário também é gente” que, além da falta de oportunidade para consegui-los, quando o conseguem, nem sempre contam com o respaldo dos orientadores, e, na maioria das vezes, são tratados como “office boy de luxo” pelas empresas. Igualmente válido como conhecimento de uma situação e ponto de reflexão é o texto “A linguagem além da fala”, escrito por Nilton Câmara, aluno do quarto semestre de Letras, que revela a sua constante preocupação com o valor social do deficiente auditivo e com a falta de políticas governamentais que lhe possibilitem uma melhor condição para o seu desenvolvimento lingüístico.
Como não poderia faltar uma boa resenha literária, temos uma leitura prévia do livro “Andanças e Marinhagens”, do poeta cearense Linhares Filho, feita com bastante perícia pela professora Célia Felismino, que nos vale como incitadora da compreensão da obra e, sobretudo, como uma boa indicação de leitura do texto poético.
Como entretenimento, não desvinculados, claro, do teor de textos também reflexivos, temos os contos “Coisas que acontecem”, de Hercília Castro, em que o humor perpassa linhas e entrelinhas; “Dentro do Ônibus”, de Isabel Gouveia, que nos mostra a massificação do ser humano no seu dia-a-dia e “ Santo remédio”, de Catarina Lobo, que faz uma brincadeira com o estigma da ingestão de bebida alcoólica quando se está tomando remédio, levando-nos a um final mesmo hilariante, até pelo seu tom e pela simplicidade com que joga os fatos, como se contasse uma história numa roda de amigos.
A poesia aparece com toda força em “O santo”, da professora Francilda Costa, uma desmistificação dos “santos” e “santas” do altar da igreja. Em sua irreverência, Francilda nos revela que santos somos todos que conseguimos sobreviver neste mundo de dores. Também revelam-se veias poéticas nos textos “Sou” e “Da esquina da Rua”, de Chico Miranda, “Sofreguidão”, de Paulo Freitas, “O tempo”, poema antológico de Laurindo Rabelo, e no pedido de “Reconhecimento social à poesia” de autoria de Kiko Santos, que converte a emoção de suas lentes para a arte de manejar as palavras.
Para finalizar, A Literarte apresenta uma entrevista com o emérito professor Costa Matos, em que se tem um perfil do seu trajeto profissional, da sua espirituosidade e senso de humor, bem como do escritor de contos e poesias que vem-se lapidando desde a publicação de “Pirilampo”, seu primeiro livro de poesias, lançado quando cursava o primeiro ano do segundo grau. O seu poema “Perplexidade”, exposto na contracapa da revista, nos dá noção do estilo enxuto e direto de um poeta em constante busca pelo significado de sua estada no mundo.
Creio que estas indicações já incitam a curiosidade da leitura dos textos na íntegra para comprovação de que a Literarte estréia com esmerado apuro na seleção de seu material, visando sempre à identidade do curso a que está filiada. É o primeiro degrau de uma escada íngreme, mas o primeiro passo já foi dado e a vontade de chegar ao topo, por ser mais alta e mais intensa, desconhecerá qualquer percalço. Parabéns a todos os que fazemos o Curso de Letras nesta primeira investida no espaço da palavra, na “tentativa de resgate do verdadeiro valor da palavra”.
Obrigada,
Aíla Sampaio
CICLO INEVITÁVEL
Há 2 meses
Um comentário:
Aila, minha amiga, obrigado pelos comentários sobre a revista literarte e a lembrança da minha poesia. Agradeço tambeem aos meus amigos alunos ue me deram espaço na revista o Nilton e a Isabel.
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